Obs. importante: A adaptação literária para o cinema
- Matheus Leandro
- 7 de out. de 2016
- 3 min de leitura
O discurso de 2003, dado pelo cineasta brasileiro Jorge Furtado na 10ª Jornada Nacional de Literatura, levou ao público presente a importante análise da transposição da linguagem literária para a linguagem audiovisual e das diferenças entre elas. As adaptações, retratadas por Furtado, precisam ser feitas seguindo sempre alguns critérios que a plataforma exige, sejam de caráter técnico ou ético.
Entre as principais diferenças técnicas do texto e do produto audiovisual, citadas pelo cineasta, está a necessidade de toda informação ser visível ou audível no vídeo. O mais difícil de se adaptar são ações abstratas, como pensar, lembrar, esquecer, sentir, querer, perceber, etc. Todos verbos bases para qualquer história.
Outra grande diferença é que, no texto, o escritor nos informa somente aquilo que ele acha importante, nós que imaginamos todo o resto. Já ao adaptar para o cinema, inúmeros elementos visuais (cor, luz, quantidade de objetos) precisam ser escolhidos pelo cineasta. Isso contribui para que a visão daquele que adapta se prevaleça aos demais. Certamente todos que leram Psicose imaginaram Norman Bates de um jeito, por mais que Robert Bloch tenha sugerido algumas características físicas. Mas, com a adaptação de Alfred Hitchcock, em 1960, nenhum espectador teve a oportunidade de imaginar outra aparência a não ser a do ator Anthony Perkins. É justamente por essa quebra da possibilidade de imaginação que muitos se decepcionam ao ver uma adaptação.

Norman Bates, interpretado pelo ator Anthony Perkins
Segundo Furtado, a ordem em que as informações são liberadas no cinema ou na literatura também são inteiramente diferentes e, ao adaptar para uma cena de filme, é necessário um cuidado para não perder a surpresa dos acontecimentos. Além disso, a música, presente nos filmes, é responsável pelo ritmo das ações. Já no texto escrito, é o leitor que comanda a apreensão das informações. “Mesmo no teatro, o ator pode esperar que o público pare de rir de uma piada para dar sequência ao texto. Mas um filme de 1 hora e 32 minutos é visto por qualquer espectador em 1 hora e 32 minutos. ” (FURTADO, 2003).
A relação entre a literatura e o cinema é bastante antiga. Para Furtado, grandes pensadores do primeiro milênio foram responsáveis pelas atuais características dos filmes. Homero, escritor de importantes poemas épicos, como Ilíada e Odisseia, nos introduziu o que hoje conhecemos por flashback, presentes, por exemplo, na maioria dos filmes de Quentin Tarantino.

Kill Bill (2004), clássico filme de Quentin Tarantino
Avatar (2009), do diretor canadense James Cameron, poderia ser muito bem estudado através dos pensamentos do escritor renascentista François Rabelais, sobre delírios visuais e a certeza de que a arte é tudo o que a natureza não é.

Avatar e a exuberância da sua criatividade, do seu colorido
A famosa quebra da quarta parede existente no grande clássico da comédia, Curtindo a Vida Adoidado (1986) e no recente Deadpool (2016) é a forma que o cinema encontrou para representar o realismo e o autor como personagem. Ideias advindas de Stendhal e Balzac.

Deadpool destruiu a quarta parede
Por fim, Furtado ressalta o quão fundamental as adaptações são no crescente número de vendas dos livros. Mas, nega qualquer hipótese do cinema substituir os benefícios da leitura ao dizer que “as narrativas audiovisuais, por melhores que sejam, não substituem a importância e o prazer da leitura. Só a leitura produz escritores e só a leitura produz bons cineastas. O cinema e a televisão criam imagens, a leitura cria imaginação. ” (FURTADO, 2003).
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